O naufragar do Titanic é uma das mais conhecidas tragédias náuticas do século XX, e talvez da história. Na madrugada do dia 15 de abril de 1912, o navio colidiu com um iceberg enquanto cruzava o Atlântico Norte, causando a perfuração do casco da proa do navio, e subsequentemente na inundação dos deques inferiores, e posteriormente do resto da embarcação.
Por sua vez a colisão foi fruto das práticas descuidadas e mesquinhas da época: para fazerem jus à pontualidade anunciada, navios cruzeiros, mesmo quando avisados de perigos, mantinham sua velocidade e chegarem no prazo prometido, o que resultou na tripulação ignorar os avisos de iceberg numa noite em que a visibilidade estava comprometida, e o avistamento só seria possível quando os gigantescos aglomerados de gelo já estivessem perigosamente próximos, resultando numa tragédia que matou mais de 1500 pessoas.
A tragédia causou um impacto enorme tanto no mundo das embarcações comerciais e de passageiros, como na cultura e arte. Na área náutica, novas práticas como a de desacelerar navios para evitar colisões mesmo que causando atrasos, bem como não depender de naves próximas para o resgate dos sobreviventes, tendo botes o bastante para todos. Já na área cultural, várias obras como livros, peças e filmes foram inspiradas na catástrofe, dentre estas o homônimo longa de 1997, “Titanic”, do diretor e roteirista James Cameron, lançado no Brasil em 1998.
A obra foi um fenômeno na época de seu lançamento: desde o elenco que consistia em astros consolidados, como Kathy Bates e Bill Paxton, e novatos bonitões, como os protagonistas Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, até os efeitos maiores do que a maioria dos título realizados até então, e também graças à sua trama romântica. Tão fenomenal foi, que se tornou o longa mais lucrativo de Hollywood, sendo superado apenas em 2010, ironicamente por outro filme de James Cameron, “Avatar”.
Por sua vez, para um jovem Ícaro (este que vos escreve), “Titanic” era apenas um romance “água com açúcar”, regado a clichês, como o protagonista pobre sonhador e com ambições artísticas que conhece uma menina rica inconformada com sua própria classe social, e ambos se apaixonam em tempo recorde.
Agora, mais de 10 anos depois que assisti ao filme (em uma reprise na televisão), com uma cabeça mais madura e consciente, percebi detalhes muito marcantes que em minha juventude ignorei. Em particular, as críticas sociais, tendência das obras de Cameron: desde “Aliens – O Resgate” a “Avatar” o diretor e roteirista não falha na crítica dos endinheirados e das grandes empresas, ressaltando a ganância e o egoísmo destes.
Em “Titanic”, vemos três figuras que marcam estas: em primeiro lugar, e de maneira até caricata, o misógino e ganancioso Caledon Hockley (Billy Zane) que leva a extremos seu egocentrismo, herdeiro de uma companhia de aço americana; a mãe da protagonista Rose, Ruth DeWitt Bukater (Frances Fisher), aristocrata arrogante, que faria tudo para manter sua posição e status; por fim, o real J. Bruce Ismay (Jonathan Hyde), um dos empresários da White Star Lines, representado como não só ignorante, mas sedento por manter a fama de sua empresa, mesmo levando a potenciais riscos.
Além disso, assistir à produção em uma tela grande, no mínimo o dobro para a qual originalmente foi planejada, e inumeravelmente maior que a em que o vi pela primeira vez, me fez notar o quanto o filme realmente é grandioso, e bem construído visualmente: os efeitos especiais, em especial os práticos, gritam na sua qualidade, e ainda que alguns gráficos não fiquem tão bons em um tamanho tão maior, a maior parte se sustenta até hoje.
Vencedor em 11 categorias do Oscar, “Titanic” – que ganha relançamento nos cinemas após 25 anos de sua estreia – continua atual, e vale a pena para todos reassistirem, principalmente aqueles que, como eu, eram jovens demais pra ver além da trama melosa, ou em telas pequenas de mais para sua grandiosidade.