Safra de Grãos Enfrenta Desafios Climáticos, Mas Mantém Produção Recorde
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O Brasil, um dos maiores produtores de grãos do mundo, deverá registrar uma produção total de 298,6 milhões de toneladas na safra 2023/2024, conforme divulgado pelo 11º Levantamento da Safra de Grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Embora o número represente uma queda de 6,6% em relação à safra anterior, equivalente a uma redução de 21,2 milhões de toneladas, ele ainda marca a segunda maior safra já colhida no país, destacando a resiliência do setor agrícola brasileiro diante das adversidades climáticas que impactaram a produtividade das lavouras.
Impacto das Condições Climáticas na Produtividade Agrícola
A queda na produção é atribuída principalmente às adversidades climáticas que afetaram o desenvolvimento das culturas durante todo o ciclo produtivo, desde o plantio até a colheita. O levantamento da Conab detalha que a irregularidade das chuvas, combinada com períodos de seca e inundações em diferentes regiões do país, foi determinante para a redução da produtividade das lavouras.
“O efeito de adversidades climáticas sobre o desenvolvimento das culturas, desde o início do plantio até as fases de reprodução das lavouras, provocou situações em que áreas com redução das chuvas desaceleraram o desenvolvimento das plantas, ocorrendo queda da produtividade ou em regiões com aumento da precipitação houve inundações nas áreas de cultivo, o que também tende a reduzir a produtividade,” destaca o relatório da Conab.
Apesar dos desafios, a área cultivada no país apresentou um crescimento de 1,5%, com um acréscimo de 1,18 milhão de hectares em relação à safra anterior. Esse aumento foi impulsionado principalmente pelo cultivo de soja, que expandiu sua área plantada em 1,95 milhão de hectares, seguido de culturas como gergelim, algodão, sorgo, feijão e arroz.
Milho: Desafios e Perspectivas da Produção
O milho, uma das culturas mais importantes do Brasil, também enfrentou desafios durante a safra 2023/2024. A produção total de milho foi estimada em 90,28 milhões de toneladas, com a colheita da segunda safra já em fase avançada. Embora as semeaduras realizadas dentro da janela ideal (entre janeiro e meados de fevereiro) tenham resultado em produtividades dentro do esperado e, em alguns casos, superiores às registradas na última safra, as condições climáticas adversas em estados como Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul afetaram negativamente o potencial produtivo.
No Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, veranicos ocorridos em março e abril, associados a altas temperaturas e ataques de pragas, comprometeram significativamente a produção. A área destinada ao plantio de milho na primeira e segunda safras também registrou uma redução, refletindo uma queda de 12,3% na produção total de milho em comparação com a temporada anterior, resultando em 115,65 milhões de toneladas.
Algodão: Um Crescimento Recorde
Contrariando a tendência de queda observada em outras culturas, a produção de algodão pluma no Brasil atingiu um recorde na série histórica da Conab, com uma estimativa de 3,64 milhões de toneladas, representando um aumento de 14,8% em relação à safra anterior. Esse crescimento expressivo é atribuído tanto às condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da cultura quanto ao aumento de 16,9% na área semeada, refletindo a confiança dos produtores na rentabilidade do algodão.
Arroz e Feijão: Resultados Positivos em Meio às Adversidades
A colheita de arroz na safra 2023/2024 já foi finalizada, com uma produção estimada em 10,59 milhões de toneladas, um aumento de 5,6% em comparação com o volume obtido na safra anterior. O arroz irrigado, que representa a maior parte da produção, deverá alcançar 9,74 milhões de toneladas, enquanto a produção de arroz de sequeiro foi estimada em 844,8 mil toneladas. Esse crescimento é atribuído principalmente ao aumento da área cultivada, uma vez que a produtividade média foi afetada por adversidades climáticas, especialmente no Rio Grande do Sul, o maior estado produtor de arroz do país.
No caso do feijão, a produção das três safras somadas deve atingir 3,26 milhões de toneladas, um aumento de 7,3% em relação à safra anterior. A primeira safra, que já teve sua colheita concluída, resultou em 942,3 mil toneladas. A segunda safra, estimada em 1,5 milhão de toneladas, enfrentou dificuldades devido à falta de chuvas, altas temperaturas em alguns estados produtores e à incidência de doenças e pragas, como a mosca-branca. A terceira safra está projetada para produzir 812,5 mil toneladas.
Soja: Desempenho Abaixo do Esperado
A soja, o principal grão cultivado no Brasil, também registrou uma queda na produção. A safra 2023/2024 deverá totalizar 147,38 milhões de toneladas, uma redução de 4,7% em relação ao ciclo anterior. As condições climáticas adversas, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e na região do Matopiba (que inclui partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), foram determinantes para a redução do potencial produtivo das lavouras, com baixos índices pluviométricos e altas temperaturas que resultaram em replantios e perdas de produtividade.
Apesar das dificuldades enfrentadas, a soja continua sendo um dos pilares da produção agrícola brasileira, com grande impacto nas exportações do país.
Trigo: Expectativas de Produção em Meio a Desafios
Entre as culturas de inverno, o trigo se destaca, com a fase de semeadura concluída na Região Sul, que responde por 85% da área cultivada do cereal no Brasil. No entanto, a área destinada ao cultivo de trigo deve sofrer uma redução de 11,6%, totalizando 3,07 milhões de hectares, devido ao atraso inicial na semeadura causado por excesso de chuvas no Rio Grande do Sul e no Paraná, os principais estados produtores.
Apesar da redução na área plantada, as expectativas são de que a produção de trigo possa se manter em níveis próximos aos observados em safras anteriores, dependendo do comportamento climático nos meses que antecedem a colheita.
Considerações Finais
A safra 2023/2024 no Brasil reflete a complexidade e os desafios enfrentados pelo setor agrícola em um cenário marcado por condições climáticas adversas. Embora a produção total de grãos tenha registrado uma queda em comparação com a safra anterior, o resultado ainda é significativo, posicionando-se como a segunda maior safra já colhida no país.
A capacidade de adaptação dos produtores brasileiros, aliada a investimentos em tecnologia e manejo agrícola, tem sido crucial para mitigar os impactos das adversidades climáticas e manter o Brasil como um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Contudo, o setor deve continuar atento às condições climáticas e às variações de mercado, buscando estratégias que garantam a sustentabilidade e a competitividade da agricultura brasileira nos próximos ciclos produtivos.