A reimplementação do horário de verão no Brasil tem sido um tema de grande discussão, com análises indicando que sua adoção pode reduzir em até 2,9% a demanda máxima de energia elétrica à noite, tanto em dias úteis quanto aos finais de semana, mesmo com variações climáticas. Se aprovado, o horário de verão em 2024 terá início no dia 3 de novembro, à meia-noite, marcando o retorno de uma prática que visa otimizar o consumo energético do país.
Contudo, até o momento, não há uma confirmação oficial sobre o retorno da medida. O governo brasileiro, através do Ministério de Minas e Energia, ainda avalia sua viabilidade. Em coletiva realizada no dia 20 de setembro, o ministro Alexandre Silveira comentou que a proposta será apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com consultas a outros ministérios, setores econômicos e ao Judiciário. A expectativa é que a decisão final seja divulgada em breve.
Sustentabilidade Energética e Impacto Econômico
O ministro Alexandre Silveira tem defendido o horário de verão como uma importante ferramenta de sustentabilidade energética. Ele destacou o exemplo do Canadá, que utiliza o horário de verão para otimizar seu sistema energético e reduzir o consumo em horários críticos. Além disso, o ministro tranquilizou a população ao afirmar que, para o ano de 2024, não há previsão de crise energética, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que projeta a normalização das chuvas.
No entanto, uma das principais preocupações dos consumidores é o impacto que o retorno do horário de verão pode ter nas contas de energia. Embora a medida tenha o potencial de reduzir o uso de luz artificial no início da noite, o impacto nas contas de luz pode não ser tão expressivo quanto se espera, de acordo com Zebedeu Souza, diretor comercial da Matrix Energia.
Souza explica que o principal benefício do horário de verão está na redução da demanda nos horários de pico, entre 18h e 21h. Essa redução tende a beneficiar mais o sistema elétrico como um todo, aliviando a pressão sobre as redes de distribuição, do que diretamente os consumidores residenciais. Além disso, ele alerta que, em cenários de severa estiagem, como o que o Brasil enfrentou em anos anteriores, o horário de verão sozinho pode não ser suficiente para evitar crises energéticas.
Bandeiras Tarifárias e a Real Economia para o Consumidor
A adoção de bandeiras tarifárias no Brasil, como a bandeira vermelha tipo 1, que adiciona R$ 4,463 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos, tem sido uma maneira de ajustar as contas de luz em períodos de maior demanda e menor oferta de energia, como durante estiagens severas. O horário de verão pode atuar como um fator para reduzir essa pressão, minimizando a necessidade de acionar usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já alertou que o cenário climático do Brasil impacta diretamente no custo da energia. Em períodos de baixa nos reservatórios das hidrelétricas, o país é forçado a utilizar mais energia termelétrica, o que eleva os custos. Por isso, medidas como o horário de verão, que ajudam a equilibrar o consumo durante os horários de pico, são vistas como uma ferramenta para mitigar esses aumentos.
Entretanto, mesmo que a medida venha a ser adotada, é importante ressaltar que o impacto na conta de luz do consumidor final pode variar. O economista Victor Carvalho aponta que a adoção de hábitos mais conscientes por parte da população durante o horário de verão será fundamental para que o benefício seja sentido de maneira mais ampla. “A economia virá da mudança de comportamento. Aproveitar mais a luz natural e evitar o uso de aparelhos elétricos nos horários de pico são ações que podem fazer a diferença”, comenta.
Desafios e Perspectivas para 2024
A possível reimplementação do horário de verão em 2024 acontece em um cenário desafiador, marcado pela instabilidade climática e pela necessidade de soluções que garantam a segurança energética do Brasil. Em meio à crescente preocupação com as mudanças climáticas e o esgotamento dos recursos hídricos, o retorno da medida é visto como uma das ações necessárias para gerenciar de forma mais eficiente o uso da energia elétrica.
Para o especialista em energia Roberto Pinto, a medida tem potencial de trazer ganhos significativos para o sistema elétrico brasileiro, mas precisa ser acompanhada de outras estratégias. “O horário de verão ajuda, mas o Brasil precisa investir mais em fontes renováveis, como solar e eólica, além de melhorar a eficiência energética das indústrias e das residências”, ressalta Pinto.
Se confirmada, a implementação do horário de verão em 2024 pode ser um primeiro passo em uma série de iniciativas voltadas para a sustentabilidade do setor energético brasileiro. Contudo, o sucesso da medida dependerá da capacidade do governo em coordenar ações junto à sociedade e aos setores econômicos, incentivando o consumo consciente de energia e a adoção de tecnologias mais eficientes.
O retorno do horário de verão no Brasil em 2024 segue em análise, com grandes expectativas por parte do governo e especialistas em energia. A possível redução de 2,9% na demanda de energia nos horários de pico é uma vantagem importante em um cenário de estiagem e pressões tarifárias. No entanto, para que o impacto seja realmente positivo, será necessário um esforço conjunto entre o governo, o setor produtivo e os consumidores.
Se implementada, a medida poderá contribuir para a redução das bandeiras tarifárias e o alívio nas contas de luz, mas o sucesso pleno dessa estratégia dependerá de fatores climáticos e da adoção de hábitos conscientes por parte da população.