Passada por gerações, o vaqueiro representa a cultura e tradição do Nordeste. Para homenagear a identidade da região foi criada o Dia do Nordestino, comemorado neste domingo (8).
No Piauí, a cultura nordestina é apresentada de inúmeras formas conforme a localidade. No município de União, a 64 km de Teresina, os vaqueiros compõem a imagem do Nordeste com muita luta, história e tradição.
O trabalho de contar e lidar com o gado em meio à caatinga, trajando geralmente um gibão de couro, chapéu e perneiras é passado de geração para geração, como contou Edvan Rocha, de 53 anos. Ele teve seu primeiro contato com ofício aos 10 anos.
“Sentia paixão quando via os vaqueiros saindo para o campo. Eu tinha de 10 para 12 anos, e aí dessa época não larguei mais. Às vezes você está longe de casa, da água, da comida, e é difícil, mas temos que ter fé e coragem”, contou o vaqueiro, que por muitas vezes chega a rodar cerca de 40 km a cavalo.
O vigor de Edvan não é o mesmo do período em que ingressou na profissão, há 40 anos, mas agora o vaqueiro contou com o apoio de seu filho Pedro Henrique, que o auxilia com o gado.
“Ele comprou um cavalinho pequeno para mim e eu comecei a andar só acompanhando, arrumando os couros, gibão e chapéu. Já me sentia vaqueiro”, disse o jovem vaqueiro.
João Barata, de 72 anos, é um dos veteranos do ofício, mas veste os trajes e busca o gado com a disposição de um jovem. O idoso tem oito filhos, e os seis homens são vaqueiros.
“Quem não teria orgulho de ter filhos vivendo da mesma profissão que você vive? Sabendo que se ele for atrás do boi ele traz?”, afirmou o homem.
Trajes
Como citado, os vaqueiros têm o costume de vestir o gibão, perneiras e chapéu como forma de proteção contra a vegetação seca presente na caatinga.
Homero Lima, de 90 anos, atuou como vaqueiro na Zona Rural de União, e hoje é artesão dos trajes usados por esses homens. Em uma das chamadas “carreiras”, ele perdeu a visão do olho esquerdo ao colidir contra um galho seco.
Nesse trabalho, a tradição familiar também se faz presente. O filho de Homero, Francisco de Assis, produz as vestimentas que viraram símbolo do Nordeste.
“Já perdi muitas peças aqui, mas ele sempre teve muita paciência de passar o ensinamento com delicadeza. Isso fez diferença”, garantiu Francisco.
Foi na cidade de União que foi criada a primeira Associação dos Vaqueiros, com o objetivo de assegurar os direitos desses profissionais.
“Tentamos preservar e passar para essa nova geração a importância do vaqueiro para o nosso cenário, tanto de União, como de todo o Piauí e Nordeste”, explicou Francisco Pierot, presidente da Associação de Vaqueiros do Piauí.
Em agosto de 2004 foi instituído o dia 29 de agosto como Dia Nacional do Vaqueiro, em comemoração a primeira procissão de vaqueiros do Brasil, ocorrida em 1944.
“Aclamado por Euclides da Cunha, no clássico Os Sertões, o vaqueiro é, na sua forma forte de encarar as mazelas do sertão, os longos períodos de seca que culminam com as intensas movimentações de gado pelas regiões mais inóspitas da caatinga e do cerrado nordestino, a representação de um povo lutador, que vive pela superação das dificuldades que o clima e o solo oferecem”, descreveu o deputado em seu projeto de lei.
“Aclamado pelos sertanejos, portanto, símbolo da garra, destemor, força e fé, de um povo, que tem nos seus aboios, a voz das alegrias e dores da lida com o gado e as preces de quem vive no campo. Sua veste, símbolo do artesanato brasileiro, composta do terno, do chapéu e das sandálias feita do couro do veado capoeiro, é o retrato do homem do sertão, que enfrenta matas espinhosas à procura do gado perdido, muitas vezes única fonte de alimento do povo da região, que vive na terra castigada pela seca”, completou.